8 de dezembro de 2023

dia____454, belo horizonte 2023: afastamentos não são ruins

oi, eu sou joy e hoje fazem 454 dias que eu fui passar um mês fora de casa e não voltei.  saímos da vida das pessoas porque não somos capazes de apoiá-las, ou de sentir o que estão se tornando. nos afastamos porque sentimos que não conseguimos contribuir com seu crescimento da maneira que merecem, ou porque perdemos a sintonia com o que está acontecendo em seus corações. não é fácil oferecer apoio a algo que não nos faz vibrar interiormente; isso nos distancia de forma natural. antes de mais nada, ninguém deve ou precisa apoiar ninguém. não é obrigatório. mas é necessário lembrar que aceitar é. gente que incentiva a ser melhor e maior nos conecta com nós mesmos em essência. isso nos ajudam a reconectar com o nosso verdadeiro eu. a verdade é que as relações se desfazem quando não conseguimos apoiar as ambições e os sonhos uns dos outros. cada pessoa está em sua própria jornada, com metas e desafios únicos, e encontrar aqueles que podem nos apoiar nesse caminho é algo de grande valia. a vida é como um rio, fluindo e nos levando a novas experiências. é tão natural passarmos por fases nada a ver uma com as outras - mas que no fundo se conectam -, assim como as estações mudam. o segredo está em abraçar essa fluidez com leveza e aceitação. ao deixarmos ir o que já não nos serve mais, permitimos espaço para o novo florescer. é como soltar delicadamente uma pena ao vento, permitindo que ela siga seu próprio curso. nosso coração e nossas aspirações são como borboletas, livres para voar e buscar o que os faz elevar. aceitar quem somos, no momento presente, e abraçar a constante ressignificação é um ato de amor-próprio. afinal, só o que é essencial se mantém de pé. se sentirmos a chamada para provocar mudanças, que possamos fazer isso com a gentileza de quem planta sementes. é nas pequenas escolhas diárias que encontramos a magia da transformação. eu espero poder me lembrar que a cada dia de que somos como flores desabrochando e respondendo às carícias do vento da transmutação. e, acima de tudo, que possamos compartilhar esse abraço acolhedor com nós mesmas e com aqueles que cruzam nosso caminho dia após dia. quando percebemos disparidades no caminho e no apoio, pode ser um sinal valioso de que é hora de cuidarmos de nós mesmas. abrir mão não significa desistir, mas sim reconhecer a importância de preservar nossa paz interior e bem-estar. se sentirmos que não estamos recebendo o apoio necessário para florescer e seguir nosso verdadeiro caminho, é um ato de amor próprio considerar a possibilidade de abrir novos horizontes. isso implica em soltar suavemente as conexões que não estão mais alinhadas com nosso crescimento. cada jornada é única, e nem sempre é fácil dar esse passo. cuidar de si é um gesto poderoso e necessário. é como regar as flores do nosso jardim interno para que possamos continuar a florescer e brilhar. o desapego, nesse contexto, é um ato de autocompaixão. abrir mão de algo que não está contribuindo para nosso bem-estar pode criar espaço para novas oportunidades e relações que estejam mais alinhadas com quem somos e o que buscamos na vida. a gente só precisa se ouvir mais um pouquinho e confiar na profunda sabedoria do coração, e se sentir que é hora de seguir em frente, que seja feito com gentileza e amor. todos nós merecemos caminhar em direção à luz que ilumina nossa autenticidade.

BARROS, Joyce Gabriella; sexta-feira, 8 de dezembro de 2023. 






6 de dezembro de 2023

dia____452, belo horizonte 2023: sobre abrir mão das coisas

oi, eu sou joy e hoje fazem 452 dias que eu fui passar um mês fora de casa e não voltei. tenho percebido durante minha caminhada que eu sempre abri mão das coisas, por mais que dor me causasse. mais meus abraços abriam em busca desse além que eu procuro tanto, mas no fim acho que nem vou achar, porque tudo o que procuro, só vou encontrar em mim. essa coisa dentro me dirige, me governa. nunca fui embora e tive pelo menos angústia ao olhar pra trás. sabe a sensação da picada de uma agulha, uma seringa, quando a gente vai fazer exame de sangue ou quando temos que tomar algum medicamento na veia, ou de um piercing sendo feito? é uma dor muito passageira. instantânea. passa tão rápido que a gente esquece que é 'pro próprio bem'. agora comecei a ler meus próprios sinais de que eu só não quero mais. eu não quero me dedicar. isso. dedicação. esmero. quando eu paro de sentir o prazer da dedicação e do esmero, meu corpo para de dar sinais que quer estar ali. sabe quando nos filmes tem aquela imagem do eletrocardiograma em que a pessoa está morrendo, o coração vai parando de bater lentamente, porque ela já não suporta mais e fulminantemente, vira uma linha eterna? é isso. a gente para de se sentir vivo ali. logo ali, onde a gente foi tão feliz um dia. eu só sei de uma coisa: a gente nunca mais vai ser o que já foi. porque agora, já somos outros. mudamos. e naturalmente os caminhos vão divergindo, vão parando de seguir um ao outro lado a lado, sabe? não tem mais toda aquela beleza. você começa a enxergar beleza em outras coisas. você conquistou o que queria, agora que já tem, quer mais. mais. mais. e o que tá ali, do teu lado, não faz mais sentido, é estranho. parece que a gente insiste, não pelo presente (que já nem existe mais passado), mas por um futuro idealizado e irreal do que não vai acontecer. é só uma projeção de quem fui enquanto sonhava. talvez mais nada disso faça mais sentido pra mim. parece que não tenho mais o que fazer. independente do que eu faça, tudo sempre vai estar girando em círculos. não evolui. não seca. não enche. você não quer mais. e você começa a nomear com outras coisas. vem em forma de ciúmes. posses e dores angustiantes. mas você sabe que não é verdade. você começa a sentir um ciúme muito ansioso, fica obcecado. tudo é um motivo pra você criar histórias na cabeça, cenários, de possíveis terríveis coisas que poderiam estar acontecendo ou seriam capazes de acontecer. é cruel o que a mente faz com a gente. ela é tão criativa, tão ampla, mas ela prefere falar outras coisas. e nem nos damos conta que somos nós que estamos sempre construindo a própria realidade. e, por covardia, sempre vai ser mais prático jorrar a responsabilidade no outro. pra não ter que arcar ou lidar com possíveis culpas.

quando você não está mais disposto àquilo, é comum continuar forçando a barra. deixando levar. as vezes por meses, anos, muito tempo, sem se dar conta. até esquecendo coisas que você leva muito em consideração. eu já não sei mais se tudo o que eu faço é meu, de fato. tudo começa a incomodar. coisas que antes amava, começam a soar como um canivete entrando nos seus olhos. tudo. você começa a não querer mais estar. você sente que não é mais você mesma. e é tão triste. me afastar de mim. deixar de ser eu. agir como uma menina ferida. na defensiva quase que o tempo inteiro. tentando ser 'dona' de coisas que não a pertencem. sobretudo sentimentos que não são genuínos. esse é apenas o dia 1 que eu comecei a ter uma nitidez mais exata de toda essa história, mas não é de hoje. quantos dias terão até a decisão final? eu preciso mesmo decidir alguma coisa? minhas ideias oscilam. até lá eu vou ter mudado tanto. che sarà sarà.

BARROS, Joyce Gabriella. quarta-feira, 6 de dezembro de 2023.