2 de fevereiro de 2015

Escândalos Neonasais

Não sei lidar com oscilações mentais. Sobretudo as que dizem respeito a mim. Um vazio globular preenche o peito de lava quente e esfria o leito sem hesitar, as palavras nunca devoradas suprimem qualquer ânsia estomacal profunda. Antigamente, era plausível saber o que fazer, tal qual como corresponder às invariabilidades da existência. Prazer de abrir as asas, ecoar em um moinho feito água na pedra, ganhar o mundo e ser vento da natureza inconstante.
Eu, tão pássaro, tão alto voo, não me basta poder caminhar caminhos, tropeçar em espinhos e alçar o meu lugar, só me resta estar sozinho, desvairando meu pobre e promissor destino, sucumbir com clareza os devotos desejos secretos da minha alma caluniosa que mente pro seu próprio carma quando lhe convém. Antífonas menos sonoras expressariam exatamente o que eu dizia agora, era catarse, ou uma leve mimese de algo que eu não sabia até ontem?
Hoje, provo a eu mesmo que a carne traz dentro de si um vazio indestrutível que perdura quanto menos posso me embriagar de conjecturas afáveis, e, certa de que sim, espalho coisas sem saber ao chão, na certeza de que o que deixei, verei de longe sem poder tocar, por ter asas de mais pra ficar ao relento do solo, e uma manada de sonhos pra não subir mais fundo, a penetrar galáxias de experiências e sentimentos desconhecidos fruto de toda e qualquer exploração de encantamento ínfimo, a pele fulgaz de quem não sabe o que quer, mas tem o mar atracado no porto que não faz raízes, porque sua casa é qualquer lugar.

Joyce Gabriella Barros

30 de dezembro de 2014

Despretensiosos estopins

Um dos atributos da inexorabilidade das coisas está nas ligações que permutam por entre os calafrios solutos da alma, a chama que acende e apaga, o fogo que dói, e tudo aquilo que ousou escapar nas entrelinhas do tempo. 
É válido aceitar metaforicamente, águas de rios diferentes não se misturas, porém, continuam a serem rios e bastar-se do líquido, a correr, involuntariamente sob a mesma direção, e dependendo da perspectiva, evoluindo ao sol.
Trepidam as falas do inconsciente, despertando a chaga do memorável, da conexão voraz que consola a destreza do não mais estar, tornando assim, a conduta branda, baseando-se na presença das irrevogáveis ilusões do ser. Sim, talvez, pela inconstância dos desprazeres, pelo pouco bem concebido nas últimas horas, seja constatável afirmar a impossível presença de sangue na aorta, transparecendo assim, a plenitude da secura, da abstração de todos os movimentos possíveis, um refúgio em forma de passarela permeando sob o mar da indagação. Fatigante é, quem dera não ser, desconjuntar tanta obra num só momento, sem ousar exclamar palavra alguma naquilo que houve na presença dos votos secretos e mãos dadas na loucura, sob o pairar de devaneios sísmicos, e a chuva como coadjuvante testemunha do intercalo matinal. De todas esses insólitos desvarios, enloba-se a asserção da dúvida do ressurgimento do que não sucumbiu, em forma de vento intermitente que insiste em orbitar no litoral.

Joyce Gabriella Barros