Sabe que eu vejo muita consistência no uso do álcool? Primeiramente porque acabei de fazer uso dele, em uma dose exageradamente rápida e aguçada, com uma pequena procedência de vontade de que o efeito fosse assim, instantâneo. Sinto ondas percorrerem pelo meu corpo e sabores coloridos que afagam minhas ânsias. Só o álcool pra me alimentar. Me vejo transbordar em gostos, nesse vazio que me faz sentir pequena aos olhos do mundo, e sem voz, calo tranquila, deito, sobretudo, na vontade de que o amanhã não me pertença, e faço pouco caso da vida, como se não ela fosse trágica o suficiente para nunca me abalar.
Eu gosto das chegadas e das partidas, mas tenho apreço continuo e contributo para o espaço de tempo e razão que se encontra no meio termo: a tal da saudade.
É uma falta dos sintomas que atracam minhas angústias de só alguém que sabe, tão silenciosamente me entender. Não há sufoco e desatino, é só uma maldita forma de compreensão que eu não encontro com totalidade tão simplesmente. E basta, sigo cega, sonhando que de uma maneira ou de outra, a plenitude me pertença, e falta um ar, porque o primeiro deles, meu querido álcool, fez meu mundo desabar quando pôs os pés no chão.
Pouco menos de um mês para tudo mudar, ou mais, para o ano renovar, encetamos a realizar pequenas sínteses emocionais que vez em quando começam a pairar dentro da mente, e vem aquela pergunta trivial, 'o que eu eu fiz da minha vida esse ano?', algumas pessoas podem não entender ou considerar, mas, cada ano que passa tem sido o melhor ano da minha vida, sem favotismo ou algo do tipo, sou devota e adoradora de tudo aquilo que estou vivendo, independe da fase, da época, das profundas ondas de nostalgia e das baixas emocionais, que apesar de tudo, sempre sobrevoam nossa mente como uma nuvenzinha de poeira nivelada a pairar sob a cabeça.
O que tiro de tudo isso é que todas as experiências, boas, maravilhosas, e até as que causavam sensação de descontentamento, são aceitáveis, adentrando no fato de que parando para pensar nas tais, na ordem hierárquica dos fatores, as melhores estarão em primeiro lugar (é claro), estando todas elas estão intrínsecas à mim, me fazendo crescer absurdamente nesse novo giro do planeta.
Eu sou imensuravelmente grata pelas cadeias de afeição que construí ao longo desses quase 365 dias, pessoas que conheci, que me fizeram conhecer outras pessoas, e apesar de tudo, sei que ainda há mais coisas por vir. Não dá pra explicar esse recheio de novos ensejos, ocasiões fortuitas e transcendentais, oscilações mentais que fizeram minhas emoções viajarem sem sair do lugar, porque nós sempre achamos que o tempo está passando demasiadamente rápido, ou talvez nem esteja, estamos apenas acostumamos a viver leve e devagar, presos à uma zona de conforto que faz com que os dias sejam extremamente repetitivos e monótonos, e mudar faz isso conosco, gera essa fluidez dos dias vagarem lentamente, sobretudo o que vivemos, que extraído de um dose de pequenas comutas diárias, constituem a consistência do que levaremos de extrato para os novos dias que iremos atravessar. Vitalidade de espírito talvez seja isso, viver como se cada dia fosse singularmente único esquecendo as possibilidades do amanhã, que pode ser surpreendente e sempre te leva para zonas inimagináveis, chegando à conclusão de que estamos exatamente onde deveríamos estar e nada disso tempo nenhum pode roubar.
Essas são as notas sutis de um ano de efeitos anestésicos inesperados, um desabafo repetino e conciso de tudo o que foi, apesar da prolixidade. Único, como nunca mais será, exato porque depois dele, toda órbita será mais intensa e isenta de comparação.
Agradeço à minha saúde, à beleza da vida, do sol que me ilumina todas as manhãs, a lua que brilha e torna cada noite intransigente, aos céus estrelados carregados de devaneios inverossímeis e às minhas escolhas, que me levaram para onde estou indo agora, um desconhecido porvir.