28 de agosto de 2015

A lacônica existência que coloriu meu dia

Hoje mais cedo, me deparei com um ser a minha frente, e ao pôr meus olhos nele, ouço na mente: "É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas."* Aquilo me soou tão magnífico, que minha primeira reação foi fitar os olhos com ar de encanto, e perguntar-me o que a mesma fazia ali, tão sozinha... apressadamente, cedi um apêndice para que retornasse, não a seu habitat, mas para algum porto que a mantivesse viva, oxigenada, saciada.


Acostei-a na árvore mais próxima, passando a enxergar a sua beleza inexplicável como nunca havia percebido em uma outra. As cores, inigualáveis, tons de azul turquesa, o alaranjado penetrante e o vermelho enérgico a cada vez que os segmentos do seu corpo cilíndrico se moviam em direção à luz, o abrir e fechar dos seus anéis lentamente se esvaindo em meio aquele mundo extraordinário demais para viver permeando a escuridão, a articulação das suas pernas, dignas de confiança da sua visão inerte, que a levariam a um lugar qualquer, que não fosse o de origem. A árvore não era o seu lugar, cada subida estava diante de um consequente declive, e por medo de alguém vê-la e contundi-la, encaminhei-a às pedras, plantas, flores, longe daqui. Mal sabia eu, que a lagarta estava em busca do seu fado, que eu interrompera naquela manhã, insistente, resultando a travessia de retorno na morte impetuosa atravancando sua missão de advertir algo que não sei o quê, indo embora, antes do bater das asas.

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*Le Petit Prince, capítulo IX; Antoine de Saint-Exupéry.