3 de maio de 2017

Atitudes banais, seu universo e tudo o mais


Começo o texto de hoje com uma instrução de ar desafiante. Ela se chama 'PEÇA DE LIMPAR III' (1996) e faz parte da mostra autoral “O céu ainda é azul, você sabe”, de Yoko Ono, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake/SP, propondo a reflexão do dia-a-dia e das relações que ele envolve. O vi aleatoriamente num post de um amigo, e basicamente, sua diretriz é: tente não dizer nada negativo sobre ninguém. Primeiro, por três dias. Segundo, por quarenta e cinco dias. E terceiro, por três meses. Não se trata de um desafio intermitente. Ele é ininterrupto, e que sabe, eterno. Como profunda acreditadora na influência das pequenas atitudes e desafios diários, cravo aqui a minha segurança em dizer que a vida de alguém deva melhorar e fazer ainda mais sentido a partir disso, porque se pararmos pra refletir um pouquinho, o que nos leva a pensar que falar algo negativo de A para B alterará de alguma forma algum aspecto de nossa existência? 

Fofocar é uma verbo tão fácil, que nem precisa de esforço, e parece ser tão bobo na boca de quem o conjuga, que do contrário, só reflete um sentimento fútil, supérfluo, sobre pessoas que se aprisionam em um pequeno mundo analítico da vida do próximo, esquecendo de se reinventar em suas próprias capacidades por estar ocupado demais cuidando de uma vida que não é sua, e sabe-se la se queria que fosse. Tenho minhas dúvidas.
Esse desafio gerou em mim um colapso, um peso consciente ao remeter situações antigas e até mesmo do próprio presente, em que muitas vezes, para caber ou se adaptar ao mundo do outro, nós simplesmente nos deixamos levar pelo veneno maligno que é o 'simples fato' de fazer uma fofoca. 

O dicionário chama a fofoca de uma suposição sobre algo, sem fatos comprovados, ou seja, é tudo derivado do empirismo. Ainda mais especificamente, é só mais uma conversa banal, sem fundamento. Sabendo de tudo isso, por que insistir? Por que julgar o outro a partir de parâmetros que são unicamente nossos? Se a pessoa fez algo maldoso, aquilo pode ser ruim apenas pra gente, mas pra ela, nem sempre. Cada um tem um medidor interno de consequências que deveria ser aplicado apenas em si mesmo. Faria mais sentido, seria mais prático e evitaria que fôssemos engolidos pela tortura de sentenciamentos que nos afunda pouco a pouco sem perceber, tendo em vista esse tipo de postura só costuma atrair forças derrotistas. E força derrotista pra quem quer brilhar é quase um nocaute, não é mesmo? 


BARROS, Joyce Gabriella. 
03 de Maio de 2017.

2 de maio de 2017

Amar amando as vontades gritantes

Existe uma força enérgica que permeia os seres apaixonados e atiça os corpos estarem em constante atrito, mesmo em estado remoto. No lado positivo e abstrato da coisa, estar sempre em movimento, interagindo, dançando. É caminhar por igual, para que quando o encontro aconteça, o mergulho no mundo do outro seja ainda mais intenso. Assim, os beijos se tornam mais calorosos, abraços mais firmes e as mãos, sedentas pela exploração. Quando é inexprimível, transborda o que os olhos não podem calar mil vezes, mas ciente de que todas as formas existentes seriam insuficientes. 
Sabe a sensação de estar em um lugar cuja língua não é a sua nativa e é necessário expressar algo muito específico mas nenhuma das palavras conhecidas da gaveta do vocabulário se adaptam? É a mesma coisa com a expressão do amor. Do quanto se ama. Com o querer. Com a vontade gritante que existe dentro. É como um abraço no azul do céu fazendo com que a camada cinza dissipe tudo que há de não tão bom, revestindo tudo de luz. 
O Beijo,1907. Gustav Klimt.
É apreciar com calmaria a saudade, sentir doer um pouco até que se eleve para a invasão da paz em todo o ser, seguido do fogo da emoção a queimar veemente. 

BARROS, Joyce Gabriella. 
01 de Maio de 2017.