6 de dezembro de 2023

dia____452, belo horizonte 2023: sobre abrir mão das coisas

oi, eu sou joy e hoje fazem 452 dias que eu fui passar um mês fora de casa e não voltei. tenho percebido durante minha caminhada que eu sempre abri mão das coisas, por mais que dor me causasse. mais meus abraços abriam em busca desse além que eu procuro tanto, mas no fim acho que nem vou achar, porque tudo o que procuro, só vou encontrar em mim. essa coisa dentro me dirige, me governa. nunca fui embora e tive pelo menos angústia ao olhar pra trás. sabe a sensação da picada de uma agulha, uma seringa, quando a gente vai fazer exame de sangue ou quando temos que tomar algum medicamento na veia, ou de um piercing sendo feito? é uma dor muito passageira. instantânea. passa tão rápido que a gente esquece que é 'pro próprio bem'. agora comecei a ler meus próprios sinais de que eu só não quero mais. eu não quero me dedicar. isso. dedicação. esmero. quando eu paro de sentir o prazer da dedicação e do esmero, meu corpo para de dar sinais que quer estar ali. sabe quando nos filmes tem aquela imagem do eletrocardiograma em que a pessoa está morrendo, o coração vai parando de bater lentamente, porque ela já não suporta mais e fulminantemente, vira uma linha eterna? é isso. a gente para de se sentir vivo ali. logo ali, onde a gente foi tão feliz um dia. eu só sei de uma coisa: a gente nunca mais vai ser o que já foi. porque agora, já somos outros. mudamos. e naturalmente os caminhos vão divergindo, vão parando de seguir um ao outro lado a lado, sabe? não tem mais toda aquela beleza. você começa a enxergar beleza em outras coisas. você conquistou o que queria, agora que já tem, quer mais. mais. mais. e o que tá ali, do teu lado, não faz mais sentido, é estranho. parece que a gente insiste, não pelo presente (que já nem existe mais passado), mas por um futuro idealizado e irreal do que não vai acontecer. é só uma projeção de quem fui enquanto sonhava. talvez mais nada disso faça mais sentido pra mim. parece que não tenho mais o que fazer. independente do que eu faça, tudo sempre vai estar girando em círculos. não evolui. não seca. não enche. você não quer mais. e você começa a nomear com outras coisas. vem em forma de ciúmes. posses e dores angustiantes. mas você sabe que não é verdade. você começa a sentir um ciúme muito ansioso, fica obcecado. tudo é um motivo pra você criar histórias na cabeça, cenários, de possíveis terríveis coisas que poderiam estar acontecendo ou seriam capazes de acontecer. é cruel o que a mente faz com a gente. ela é tão criativa, tão ampla, mas ela prefere falar outras coisas. e nem nos damos conta que somos nós que estamos sempre construindo a própria realidade. e, por covardia, sempre vai ser mais prático jorrar a responsabilidade no outro. pra não ter que arcar ou lidar com possíveis culpas.

quando você não está mais disposto àquilo, é comum continuar forçando a barra. deixando levar. as vezes por meses, anos, muito tempo, sem se dar conta. até esquecendo coisas que você leva muito em consideração. eu já não sei mais se tudo o que eu faço é meu, de fato. tudo começa a incomodar. coisas que antes amava, começam a soar como um canivete entrando nos seus olhos. tudo. você começa a não querer mais estar. você sente que não é mais você mesma. e é tão triste. me afastar de mim. deixar de ser eu. agir como uma menina ferida. na defensiva quase que o tempo inteiro. tentando ser 'dona' de coisas que não a pertencem. sobretudo sentimentos que não são genuínos. esse é apenas o dia 1 que eu comecei a ter uma nitidez mais exata de toda essa história, mas não é de hoje. quantos dias terão até a decisão final? eu preciso mesmo decidir alguma coisa? minhas ideias oscilam. até lá eu vou ter mudado tanto. che sarà sarà.

BARROS, Joyce Gabriella. quarta-feira, 6 de dezembro de 2023.

4 de dezembro de 2023

dia____450, belo horizonte 2023: cachoeira 27 voltas

oi, eu sou joy e fazem 450 dias que eu fui passar um mês fora de casa e não voltei. hoje eu despertei naturalmente cedo. senti o brilho do novo dia de uma forma cheia de gratidão, que assim como o dia anterior, fez-se prevalecer. depois de uma trilha de bike com 100km (+-7h de movimentação), e a sensação de estar em sintonia com os companheiros na jornada, compartilhando não apenas a estrada, mas também momentos de pura adrenalina nas libertadoras descidas sem mãos no freio, é algo que guardarei com carinho. sem falar no sentimento de silêncio interno energizou o momento e deixou tudo mais bonito. é incrível como esses desafios têm trazido significado à minha vida. cada pedalada foi mais do que uma conquista, foi um lembrete de que sou e somos capazes de superar qualquer obstáculo. o trajeto belo horizonte - nova lima - honório bicalho (cachoeira 27 voltas) - raposos - sabará - belo horizonte, certamente foi o melhor que fiz esse ano até agora. não que tenha feito tantos, mas com certeza esse é aquele pé que a gente coloca na fé pra ir indo além cada vez mais. as estradas até chegar a cachoeira, tal qual seu nome, com suas 27 voltas e abismos imensos que mais lembravam a estrada da morte no território inca, só que adaptado apenas pra bicicletas e alguns transeuntes que não sofrem de vertigem, faziam com que construíssemos confiança, e destreza pra contemplar o caminho com foco, porque qualquer erro poderia ser tremendamente fatal. foi um misto de sensações que no fim deu tudo deu certo porque, além de tudo estávamos todos em consonância em tudo, até em questão de velocidade. em alguns momentos, pequenos sprints individuais nos separavam, mas nenhuma velocidade que não acoplasse e seguíssemos juntos logo em seguida. a volta, foi tão ágil quanto a ida, fez com que chegássemos em belo horizonte antes das 17h com um sol dourado e cheio de magia de fim de tarde com aquele cheiro de contemplação, o peito cheio de felicidade e grato por ter alcançado o objetivo num tempo hábil tão significativo. o maior presente, seria um belo banho de água fria que eu não via a hora de ter ao chegar, sentindo a leveza dos cabelos molhados, a água mais uma vez inundar a mim. e de quebra, o brilho do sol na janela enquanto isso acontecia fez tudo parecer ainda mais surreal, e um clima de domingo que ainda tinha muito pela frente, e, principalmente a sensação de: EU FIZ ISSO. fui inundada por uma intensa vontade de agradecer e aqui estou, até o momento presente extasiada. em alguns momentos, a ansiedade me fez questionar um pouco das minhas escolhas, mas observando por uma perspectiva mais externa, vejo que nenhuma escolha é por acaso, e todas sempre nos levam pro agora do depois. pra um caminho muito maior que é o presente da vida. isso está contido em tudo. ainda mais nesses momentos em que a gente é capaz de enxergar toda a beleza de coisas tão simples mas com tamanha capacidade de impactar. essas são as verdadeiras grandes aquisições: momentos e experiências compartilhadas com as pessoas certas na hora certa. o conselho que dou a mim mesma é continuar abraçando esses desafios com determinação e apreciando as conquistas de tamanho sem medida, e lembrando que cada passo contribui para um todo mais significativo. equilibrar desafios com autocuidado é mais do que essencial. e assim como a beleza está nas pequenas coisas, o crescimento também está nos momentos de reflexão e
descanso. sigo confiante, sabendo que essa jornada é minha, única e cheia de aprendizados que me guiam para a imensidão de mim. nunca estamos atrasados quando vivemos um dia de cada vez.

BARROS, Joyce Gabriella. segunda-feira, 4 de dezembro de 2023.