16 de agosto de 2016

O pulsar da impaciência

E hoje,
restaram no ar reflexos fantasmagóricos nada paupáveis 
revestidos do louvor de quem pouco se importa 
de quem pouco se move 
para ver o vento engajar as diferentes etapas da consciência
Os oscilantes trejeitos de quem não sofre de escoro precoce
para com outrem
e não tem capacidade exata de traduzir subjetividades
por estar ocupado demais cuidado de si
dos próprios interesses
das lacunas que a vida abre dia após dia 
e no crucifixo das horas 
acorrenta os passos sutis na escuridão
apavorando reflexos por não reconhecer virtudes complexas
que se apoderam de um caráter personificado
na simples projeção traumática do desejo de voltar à estaca zero
sem vírgulas ou variantes a mais
vivendo por viver
longe dos dramas de um noticiário qualquer na televisão
regendo padrões que enclausuram quem somos e quem queriam que fôssemos
sem perspectivas
seguindo o adeus dos passos
por nós que desatam em estados longínquos da estase.
Joyce Gabriella Barros, 
15 de Agosto de 2016.

29 de julho de 2016

Guarde e morra sufocado

Há uma lacuna inversa ao esconder o que está sendo sentido, esconder do outro, do mundo, esconder de si. Simplesmente ignorar, fingir que não há, guardar a dor para que ela apodreça e morra em sua própria companhia. Sem ninguém saber o que passa, evita transparecer a mínima migalha de sentimentos negros pro exterior do eu. Em contrapartida, atos mandam recados, sinais, jogam sujo, esfregam a cara no asfalto ao mostrar o que realmente está passando do lado de dentro, e o coração fica a ponto de petrificar. Triplicando condolências, o ato de mascarar torna tudo subjetivo e na maioria das vezes, sofre irremediável, agredido, por estar sendo terrivelmente incompreendido.
Ser dono de uma sensibilidade infinita é um fado, por tudo que está envolto ser sentido com uma força maior do que pode ser descrito em escalas ou porcentagens, e viver por viver, é tentar um dia após o outro matá-la, tentar não sê-la, caminhar alheio a ela. 
Tomando como dificultoso, soa como se estivesse prestes a chegar ao topo do limite, não sabendo mais ao que recorrer, por tanto ser mal interpretado e caluniado. Consternação visceral é lamentar que a tudo se deu, a tudo tudo se doou, e que pra facilitar talvez seria mais fácil fazer um apanhado de toda propriedade e simplesmente jogá-la abaixo, matar e sufocá-la aos prantos para que agonize, dure poucos instantes e vá embora para nunca mais. Mas fica a questão, seria essa a melhor opção? Qual a viabilidade? Sentimentos não ditos não dissipam no ar e voltam como fantasmas em meio às terríveis arestas da indecisão.

Uma dor não destruída regressa mil vezes mais forte e dolorosa. 
Guarde e morra sufocado. 

Joyce Gabriella Barros, 
4 de Julho de 2016.