27 de novembro de 2019

és livre para chamar-me como queira

me chame louca,
atrevida,
me chame oca,
me acusa.
és livre.
sou livre.
chama-me como queira,
só não vem falar asneira
pensando que sou o que realmente
queres que eu seja.
o que falares,
não me chega.
não existe auto-perdão
quando a questão é
atender às expectativas alheias.
quando se tem convicção
de quem se é,
lutas,
ou qualquer falta que eu possa reconhecer,
é difícil fazer o pilar pender.
quando há firmeza
o suficiente para permanecer no chão
saber ficar,
ir embora,
ou voar.
o que sabes, no fundo,
é tão superficial
e trágico,
que não sobra nem ao menos
uma pitada de compaixão
por todo o resto.
não arrisque saber demais,
terias medo.
tudo o que há aqui,
é meu.
e isso, amor,
é 1x1 entre eu e mim.
segredo.

BARROS, Joyce Gabriella.
27 de Novembro de 2019.

20 de outubro de 2019

um saúdo à sua nova boa fase e outras formas de ser grata

apesar do tumulto, da vida movimentada, entre bebedeiras e treinos, é muito simples quando a gente chega no ponto em que diz: eureka, e conclui-se. claro que não eternamente porque sempre estamos nos concluindo. depois de muito meditar, pensar, tentar entender o que não precisava ser entendido, me vi num ponto em que haviam respostas pra as minhas perguntas, e só quando a gente se olha muito de dentro somos capazes de perceber. 

estava lá, mas precisava do tempo certo pra acontecer. obrigada por ter sido na minha vida um instrumento de encontro com minha essência, como eu bem ouvi nos últimos dias, tudo o que aprendemos um com o outro não poderia ter sido aplicado entre nós, visto que tudo virá à tona nas próximas interações, e aí a gente vai perceber com muito mais visão e clarividência como as trocas irão fazer parte, pra sempre, da gente. pessoas, lugares, momentos, silêncios, palavras nunca serão erradas quando se percebe o lugar de cada coisa. se estão lá, é porque precisaram existir pra modificar a conjuntura, causar revolução. depois de tantos pontos finais, regados a dor e pitadas de amargura, me vejo sozinha e íntegra em mim, sem necessariamente sair de uma história visando ou na pior das melhores hipóteses, já vivendo outra, como mera desculpa pra não admitir que sou inteira e me basto na multidão. caso eu cruze com alguém amanhã ou depois, pela minha vida inteira terei bastante nítido na minha mente o quão essa relação quebrou um círculo vicioso dentro dos meus muitos poucos anos do que eu achava que era amor, e as fases sempre me mostrarão que existirão infindas e diversas formas de amar, nem sempre perfeitas, mas sempre cabíveis pro tempo.

não precisei de motivos concretos pra ir, pra deixar o porto, a não ser reconhecer a validade disso tudo, de uma forma tão secreta e tão minha, que poucas pessoas poderiam entender, mas eu sei, que do seu jeito, você entende sim. e parafraseando leminski, acho que a gente se despede da nossa peça, com muito amor, com muita emoção, e muita gratidão. eu te disse uma vez, e agora o sentido é este: a gente só compreende o papel de uma pessoa na nossa vida, quando ela não está mais nela, embora fique pairando por existências dentro do nosso ser, algo intrínseco, que ninguém arranca, como uma coleção de amores na estante, que me ajudaram a me fazer feliz e me recompuseram, por instantes eternos. seja bem-vindo a sua nova boa fase, assim como eu irei seguir o rumo da minha, adiante. escrevo isso, enquanto marejo os olhos pela felicidade de ter compartilhado tanta vida com você. amor de almas não passa nunca, e estou cada vez mais convicta de que ele não acaba, se transforma pra tocar a infinitude.

e é o momento que eu mais te amo, que eu te perdoo, e me perdoo, pra seguir em frente, deixar ir e aceitar qualquer que seja o caminho que vem. que sejas feliz, que ame intensamente, que lembre da gente como um amor bonito, não muito tranquilo, mas talvez tenha sido essa fervura no caos que fez a gente aprender tanto a ser quem somos agora. um bom astral pra sua vida, vamos cair, vamos levantar, mas isso jamais vai nos impedir de viver. eu vinha num processo e não vi. agora, sentido, senti, e apta, eu entendi. eu fui! você é um homem extraordinário. de diversas formas eu sempre estarei aqui. que seja o que seja. e eu sei que será. é a lei.

BARROS, Joyce Gabriella. 
19 de Outubro de 2019.

11 de setembro de 2019

Sobre andar só

Eu sempre saio sozinha.
Digo, enquanto viajo.
Enquanto exploro.
Mas, como toda solitária, sempre encontro um outro só pela solidão. 
E aí a gente se cruza,
a gente troca. 
É bom.
Ando meio com vontade de ficar comigo mesma.
A sensação de explorar o eu tem sido única.
Pela primeira vez na vida.
Sozinha mesmo.
Passo por algumas pessoas, 
trocamos sorrisos singelos de cumprimento, 
mas só. 
Silêncio e solitude total me acompanham no restante do caminho e aqui me sinto livre, 
uma plenitude única onde eu posso ver que é nessa hora que tudo faz sentido outra vez.
A gente as vezes precisa resetar pra se conectar,
e é essa a sensação.
Andar sozinha é uma descoberta,
é caminhar no seu tempo,
no seu ritmo,
numa cadência que só você mesmo precisa respeitar.

Brumadinho/MG
25 de Agosto de 2019.
BARROS, Joyce Gabriella.

Um solilóquio sobre Inhotim (Brumadinho/MG)


Depois de caminhar quase 20km, com hipérbole mesmo porque sou exagerada, e mais precisamente 17,7km, viver sensações incríveis e impossibilitadas de descrição: só vivendo pra crer, eu sei.
Que experiência incrível. Uma sala com alto relevo, com colchões, outras muito escuras onde só existia eu e mais ninguém. Algumas tive medo, algumas quase chorei, mas os olhos marejavam. Quando eu me sentia mais só, era quando eu me sentia mais íntegra. Mais me pertencia. Parecia, que naquele momento de profundo foco no agora, eu sentia minha alma, eu existia. E pra ser mais exata não havia mais nada no universo além daquele momento.


No dia de hoje eu pude desfrutar de imensas sensações. Alguns surtos de ansiedade, mas agora, vendo o passeio quase chegando ao fim e sentada no meio de árvores tão gigantes quanto edifícios de uma selva de pedras, eu digo e repito: está entre as mais extraordinárias que já vivi. Foi ainda mais imensa por eu tê-la desfrutado em minha própria companhia. Tive algumas oportunidades iniciais de fazer bons amigos para que fôssemos companheiros um do outro, fotógrafos um do outro. Mas eu não trocaria a vastidão de impressões ao descobrir cada parte de um todo sem seguir roteiros e ainda assim, ter percorrido praticamente tudo.

Meu ritmo, minhas regras, minhas escolhas, dona de mim e de cada coisa que eu fazia. A mesma sensação que senti ano passado, de ninguém saber onde eu estou no mundo, de certa forma. Ou até, embora soubessem, não havia como encontrar-me. Nada se compara aos caminhos onde só haviam pedras, árvores, mata, céu, natureza e beleza sem fim. A melhor escolha, o melhor programa que eu poderia ter feito hoje. Mais uma comprovação exata de que eu guardo dentro de mim a melhor companhia do mundo pra mim mesma, sem exageros, mas já exagerando, como fiz lá no início.

Ps: na contagem final dos km rodados, cheguei aos 19,9km, então estive certa em exagerar.

Ah, e antes de mais nada, o transfer BH - Inhotim ficou por conta da empresa Belvitur. Custou R$66,00 + R$22,00 meia entrada no museu e a saída foi às 8h30 da manhã / volta 17h30. É imperdível!

Brumadinho/MG
25 de Agosto de 2019.
BARROS, Joyce Gabriella.

9 de janeiro de 2019

O que o outro escolheu viver não é da nossa conta


E aí alguém importante vem até você, querendo desabar, por sufoco ou simplesmente buscando a canalização de um sentimento que por mais que outrora tenha sanado em poucas partes, necessita de um pouco de atenção antes da morte fatal, de fato. Nós, por muitas vezes querendo demonstrar uma atenção plena ao ocorrido, ou simplesmente mostrar uma importância digna (que vai além dos tempos de WhatsApp), nos posicionamos acerca.

Mas será que é mesmo necessário? Será que a alma do outro clama por algum julgamento vindo de nós? Sim, um juízo de valores. Essa tal palavra, o julgamento, diz tudo: julgar, submeter à apreciação, opinar sobre algo que não está intrínseco à nos ou não nos pertence, e acima disso, por não estar vivendo aquela situação de maneira clara e imersa, faz com que tracemos opiniões dúbias, errôneas e que não são a solução para as lutas do outro, visto que apenas ele tem ciência delas. Saber a hora de falar é uma sapiência, mas ainda mais sensato, é saber a hora de ouvir e retificar: E se fosse comigo ou isso fizesse parte de mim? De que maneira eu agiria ou isso impactaria na minha vida? 

Certamente, devido ao repertório das reações, a diferença que reside em cada um de nós, existiriam milhares de probabilidades em opções de ação, não é mesmo?! Então, talvez, nosso semelhante precise tão somente viver suas escolhas a partir das tantas outras que já fez até ali, pois foram elas que o levaram até lá, e não cabe a nós. Ele pode até custar a encontrar o caminho mais justo, mas o importante é que lá chegará, sempre de acordo com sua cadência e o que carecer para atingi-lo, até porque, convenhamos: o que o outro escolheu viver não é da nossa conta.

BARROS, Joyce Gabriella. 
08 de Janeiro de 2018