9 de dezembro de 2013

Ociosos momentos...



As luzes da cidade interferem por mim 
Traduzem o velho brilho dos meus olhos fitos
[ao te ver
Lembro-me como ontem 
O travar de meus pulmões 
Ao encontrar-te por acaso
Virei em frente
Com medo de ver-me 
e relembrar os velhos e ociosos momentos
O coração falava por mim
Escravizava a solidão
Agora, onde estou? 
Onde me encontro?
Será que podes me sentir?
Talvez não. Talvez estejas tão longe, que não conseguireis saber onde estou, por onde meu pensamento vaga, por pouco ter exteriorizado-os
Queria ter-te perto, mas não será tão possível quanto passível de todas as teorias aqui centralizadas. 
Te revigoro, te re-broto, te peço perto
porém não vens. 
Onde estás? 
Não sei. 
Só posso conjecturar que vagas dia e noite pelos meus meus mais doces pensamentos e singelas memórias que há de existir dentro
Quero que sejas feliz
Mesmo que não aqui
Mesmo que não por perto
Mesmo que não, em mim
Foi pouco, escasso, ficou, mas passou
Contigo, diferente
Outr'ora, ausente
Dadas reminiscências, esvaídas por um tempo que não regressará nem que haja vontade mútua. 
Ou, talvez. 
Talvez seja possível propor novos ânimos, 
novos ares, pra'quilo que sempre se almejou. 
Sempre existira. 
Sempre esteve do lado e não se foi deixado existir, quem dirá, perceber-te. 

(Joyce Gabriella Barros)



12 de agosto de 2013

Despedida...




E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. 

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. 

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.
Rubem Braga