12 de agosto de 2013

Despedida...




E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. 

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. 

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.
Rubem Braga

1 de agosto de 2013

Um ciclo efêmero chamado vida



A vida segue um curso natural de ciclo contínuo. Nada fica ou permanece. Por mais que às vezes a vontade de fazer o passado presente, rever os conceitos, analisar todos os erros para evitar a auto-sabotagem, isso jamais será possível, simplesmente porque o tempo não permite. Focar no futuro e lembrar que ''nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia" como diria o grande Lulu Santos, talvez seja o mais concreto e correto, contudo, esquecer o que passou nem sempre é fácil. 

Vale à pena aceitar que se tudo aconteceu de tal forma, a culpa não é necessariamente do destino, e sim da sua capacidade de fazer escolhas que lá atrás, pode não ter sido tão coerente, fazendo com que seus audaciosos dias atuais não caminhem de acordo com a maneira desejada.
  
E nem adianta chorar pelo leite derramado, pelo laço desfeito ou pelo cristal quebrado. Nesse lance suscetível de lidar chamado vida, esquecer é o melhor remédio, e as coisas melhores vem a partir do momento em que você deixa pra trás as não tão boas assim...



Joyce Gabriella Barros