23 de dezembro de 2016

Movimentos cíclicos

O mundo anda tão populado por coisas ruins que às vezes a gente acaba se contaminando um pouco, propagando a negatividade e esquecendo do que nos preenche ainda mais e dá vida ao corriqueiro, Profundamente e a clamar dentro de mim, há uma luz que pede pra nunca parar, nunca deixar, e mergulhar cada vez mais fundo nisso que chamamos de amor.
Crises instantâneas passam, mas o emanar da felicidade e reconhecimento de sua existência, altera o status para iluminado ao saber transmitir-se da melhor maneira possível pro objeto de amor, se enquadrando como um item relevante na construção da nossa experiência e troca.
No mais, me permito adiantar apenas para dizer apenas o quão os teus braços traçam sinais paradisíacos que postergam o fim do mundo e subvertem a ideia desse circuito de maldade e incompletude das coisas, estar ao teu lado é viajar pra uma imensidão incomum e festejar, por no meio de tanta coisa sem graça e frívola, encontrar você, saber que teu sentimento permanece concentrado do lado, na minha linha de acesso por onde quer que eu vá, tornando esse ritmo um verdadeiro fio condutor que nunca para de fluir sobre a intensidade da nossa magnífica relação de transmissões recíprocas entre os nossos sistemas físicos, desencadeando uma saudade anormal e cada dia mais crescente mesmo depois de um energético e prolongado final de semana - lotado de você. 
É um movimento cíclico 
incansável, 
que eu desejo que dure por toda nossa anormalidade
e não escoe no vento ou se perca em andanças mundo a fora.

BARROS, Joyce Gabriella. 

15 de dezembro de 2016

Saudoso eco nostálgico

Foto: Blog Aroma Essencial
Sob o balanço noturno das persianas e a glória do quarto escuro, me prendo à pelúcia carinhosamente chamada pelo teu nome no diminutivo, perfumada com teu aroma, que penetra com minúcia as mais secretas memórias do âmago.  Despertam sensações dos últimos trezentos e sessenta e cinco dias que fluíram.
Uma dose pro olfato,
precedido de arrepio.
Sinopse de emoções em baixo relevo,
precedido de arrepio.
Tua imagem enclausurada na mente,
precedido de arrepio.
A ligação mais forte de passado, presente e perfume.
Você.
Arrepio. Tua voz, tua lembrança, os riscos que perambulam por te pertencer em cada vinda que se estende e posterga novos inícios. As armadilhas que se lançam a cada vez que uma palavra é proferida em um recinto errôneo, e abre passagem para uma luz que não é própria, despertando amarguras ou posses que emergiam e não sucumbem para este fim.
Teletransportes transmitidos encadeadamente pelos esquemas magnéticos do coração dos quais você se enraíza deliberadamente, cogitando a ideia de o relógio das horas indicar a saudade, no solar do seu intenso declínio, que não pode parar, não postergando o sossego pra depois, por já conhecer os reflexos do gosto doce da presença.
É pensamento-brasa que ecoa com afinco, e transmite todas as vertentes emocionais do gosto vivo por algo que não se sabe o quê, projetadas para existirem fora do acaso, atrelado à robustez que não dorme enquanto não termina, e se dão por satisfeitas a todas as vezes que retorna à superfície e lá está você, de braços amarrados pronto para alavancar com entusiasmo a proteção que mais parece divina, aliando o sorriso de origem eufórica à luz que alivia qualquer cansaço, e anula sentimentos adjacentes outrora confundidos com aniquilamento à sobriedade, transformando em luz que quer viver,
permanecer
e enaltecer frutos nossos,
por conseguinte, severamente, sob nenhuma forma de desintegração
para a desconhecida posteridade.

BARROS, Joyce Gabriella. 12 de Dezembro de 2016.

3 de outubro de 2016

Atrevimento dos corajosos

Escolhas feitas com a 'cabeça quente' ou num momento muito confuso são capazes de gerar más consequências... interrompa a lava que brota no seu peito e aprenda a reconhecer que esse é um mau momento para decidir alguma coisa. É melhor não sentenciar nada por enquanto, por essa ser uma hora propícia apenas para recolher-se. 
Nesses momentos, vale buscar apoio em suas crenças espirituais, se tiver alguma. É possível que a noite escura que você atravessa seja apenas uma fase temporária. Com essa questão, surgem outras inquietações: a dúvida de que nada será como antes, de que a dificuldade durará para sempre e de que existe uma só saída possível, a fuga. Isso não é verdade. Muita água ainda pode rolar debaixo dessa ponte se, como bons comandantes, tivermos a coragem de manter o leme na mesma direção durante a borrasca. Mas também há a época certa para ouvir as inquietações da alma e fazer novas escolhas. É quando elas são muito insistentes e duram há muito, muito tempo. Um longo processo, portanto. 
Pode ser que esteja realmente na hora de você mudar de vida, de abandonar projetos antigos e de se renovar internamente. Mas lembre-se: nunca é alguma coisa fora de você, ou principalmente uma pessoa fora de você, que deve ocasionar esse novo caminho. A opção pela mudança vai requerer uma transformação íntima, pessoal e profunda, mas ela deve surgir de uma escolha interna sua, só sua, sem influência de ninguém ou de uma circunstância externa. E esse pode ser o seu momento de escolher, sem medo. Então respire fundo para encontrar força e coragem. Levante a cabeça e vá em frente. Desconfio que alguém, sorrindo, vai estar perto de você a cada passo. 
E assim, cada vez mais, o aprendizado perpetuará. Hoje, melhor que ontem. Amanhã, muito mais que hoje e dia após dia, a cabeça se constituirá, tomará as rédeas de si mesma e receberá da melhor forma o fator de transitoriedade das coisas. Sejam elas saudáveis ou decrescentes.

Joyce Gabriella Barros.

16 de agosto de 2016

O pulsar da impaciência

E hoje,
restaram no ar reflexos fantasmagóricos nada paupáveis 
revestidos do louvor de quem pouco se importa 
de quem pouco se move 
para ver o vento engajar as diferentes etapas da consciência
Os oscilantes trejeitos de quem não sofre de escoro precoce
para com outrem
e não tem capacidade exata de traduzir subjetividades
por estar ocupado demais cuidado de si
dos próprios interesses
das lacunas que a vida abre dia após dia 
e no crucifixo das horas 
acorrenta os passos sutis na escuridão
apavorando reflexos por não reconhecer virtudes complexas
que se apoderam de um caráter personificado
na simples projeção traumática do desejo de voltar à estaca zero
sem vírgulas ou variantes a mais
vivendo por viver
longe dos dramas de um noticiário qualquer na televisão
regendo padrões que enclausuram quem somos e quem queriam que fôssemos
sem perspectivas
seguindo o adeus dos passos
por nós que desatam em estados longínquos da estase.
Joyce Gabriella Barros, 
15 de Agosto de 2016.

29 de julho de 2016

Guarde e morra sufocado

Há uma lacuna inversa ao esconder o que está sendo sentido, esconder do outro, do mundo, esconder de si. Simplesmente ignorar, fingir que não há, guardar a dor para que ela apodreça e morra em sua própria companhia. Sem ninguém saber o que passa, evita transparecer a mínima migalha de sentimentos negros pro exterior do eu. Em contrapartida, atos mandam recados, sinais, jogam sujo, esfregam a cara no asfalto ao mostrar o que realmente está passando do lado de dentro, e o coração fica a ponto de petrificar. Triplicando condolências, o ato de mascarar torna tudo subjetivo e na maioria das vezes, sofre irremediável, agredido, por estar sendo terrivelmente incompreendido.
Ser dono de uma sensibilidade infinita é um fado, por tudo que está envolto ser sentido com uma força maior do que pode ser descrito em escalas ou porcentagens, e viver por viver, é tentar um dia após o outro matá-la, tentar não sê-la, caminhar alheio a ela. 
Tomando como dificultoso, soa como se estivesse prestes a chegar ao topo do limite, não sabendo mais ao que recorrer, por tanto ser mal interpretado e caluniado. Consternação visceral é lamentar que a tudo se deu, a tudo tudo se doou, e que pra facilitar talvez seria mais fácil fazer um apanhado de toda propriedade e simplesmente jogá-la abaixo, matar e sufocá-la aos prantos para que agonize, dure poucos instantes e vá embora para nunca mais. Mas fica a questão, seria essa a melhor opção? Qual a viabilidade? Sentimentos não ditos não dissipam no ar e voltam como fantasmas em meio às terríveis arestas da indecisão.

Uma dor não destruída regressa mil vezes mais forte e dolorosa. 
Guarde e morra sufocado. 

Joyce Gabriella Barros, 
4 de Julho de 2016.

16 de maio de 2016

A tragédia dos pequenos grandes equívocos urgentes

O Grito, Edvard Munch, 1893
Hoje mais cedo, a minha consciência passou por um forte processo de desígnio, a mente em êxtase clamava por uma modificação do estado normal de algo muito particular. 
Efluía de dentro,
do âmago.
Há muito tempo,
algo em mim pedia socorro,
gritava por atenção,
queria ser visto. 
De todas as formas, essas condições tentaram se revelar para que eu pudesse perceber o que estava distante, errado, passível de correção, e eu, com a capacidade pouco difusa de observação, ignorei, calei, deixei estar. Sim, eu passei perto, foi por pouco. Quase faltou ar. Tentando esquivar-se da evolução para algo muito pior e talvez irreversível, colido com a surdez, ao ouvir a emissão de uma voz em tom agudo e elevado suplicando para ser posto fora à força do corpo, quase numa síncope. Foi sugestivamente suasório, a intensidade de sua aparição foi tão cruel, que deixou feridas e resquícios que levarão um bom tempo para serem extintos, embora admitindo crença na energia das consequências do inconsciente, na razão, no propósito e o fato de absolutamente nada vir a tona fortuitamente.
Um episódio alastrado de realidade, contudo, confundido com um sonho. Um chamado, a prova de que um apanhado de posturas merecem revisão. 
E sob tais conjunturas, me propus a engatar uma nova condição - e travar as velhas -, tocar as mãos uma à outra para agradecer pela capacidade de discernimento que ao sorrir em minha direção, me impediu de atos pérfidos contra si, com todas as garantias à mim e ao amanhã, que arcarei com todos os ciclos que foram abertos, e a partir de agora se encontram declaradamente dados por encerrados, para que novos começos venham e calcem alavanques infinitos.
Mudanças ascendem. Erros, carregam lacunas de regressão. É preciso arriscar-se, mudar o endereço dos medos e das dores, segurar com peito de ferro as rédeas de toda e qualquer situação contraditória da conduta.

Joyce Gabriella Barros. 

2 de maio de 2016

Sinto lhe informar

"Ponderação está diretamente relacionado à renúncia."
Faz sentido para você? Faz sentindo para mim.

Vem comigo, que eu te explico o porquê. 

Frequentemente nós somos enganados sobre as consequências do fado, do sonho alto, e até do calar a razão. Desvairados que somos, inauguramos o molde de um futuro que ainda não deu o seu primeiro passo, e a finalidade disso, é que sendo o amanhã um projeto - não uma programação; não é possível calcular as margens de erro -, uma construção, uma base sólida de um alicerce de proporção infinita à força de quem o edifica e deposita nele uma força extraordinária. Estando as doses de intensidade medidas a conta-gotas por receio do porvir, sinto lhe informar, é areia atirada ao vento. Não receber resposta à um estímulo, em demasia, corrompe a tudo aquilo que ainda nem a reergueu-se com vigor, os recintos de incertezas dão lugar ao que poderia ser, crescer e prevalecer, e de tudo, tira-se a constatação do que imaginava, por mera reação da ação presente. Não necessariamente estava escrito, fora modelado, até tal ponto que naquela altura seria o mais correto e cabível para a situação. Renunciar vontades por medo de reduzir a emoção à cacos é, sem dúvidas, um disfarce da fraqueza que desde já reconhece o rumo do produto final.
Joyce Gabriella Barros.

13 de abril de 2016

Da série: Elogios, catapulta de alavanques

Imagem: Zé Burnay, ilustrador e designer gráfico lusitano.
Dizem que elogios não rendem, que postergam a estirpe do topo e a boa e velha crítica é o combustível para tal. Será? Saltando para a ala da pessoalidade, afirmo, elogios atuam sobre mim como uma força catapultesca a me lançar em pleno ar. Incentivam, regam - em alto e bom som - para que eu floresça. Entretanto, qual o poder da crítica? Nos mais fortes (relativamente falando), tomá-la como apoio, sem inferir jamais a sua terna confiança, não é concebido como injúria. Em relação à outrem, exala uma infinidade de sentimentos relacionados às feridas na auto-estima, fazendo com que selos da cabisbaixisse permeiem, entre campos que poderiam pairar sobre os efeitos dentro de um hiato, o ato, e destrói o castelo antes mesmo de ser erguido. Claro, é dicotômico: há aqueles, masoquistas, que cultivam júbilo ao passar por cima dos receios ou dúvidas dos postos contra, evocando represálias. Nesse sentido, não parece haver algo melhor do que a inspiração de um elogio encantadoramente sincero. Isso, porque de fato, nasce ali, um esforço para atingir a excelência, vestido de superação, de viajar-além. E é disso que somos feitos, escadas, degraus que compunham desmedidas que pouco a pouco nos impulsionam; uma crítica, nas mãos de um devastador de sonhos, pode derrubar um conselho de ideias, e consequentemente, gerar desacreditamento da vida. Eu juro que gostaria de ver as duas faces da história, a quê são movidas as hipérboles de um elogio ou a peleja de uma crítica, para comparar qual dos caminhos afeta melhor a lei de que você não precisa de ninguém além de você mesmo para contar a própria história, mas, provavelmente, o primeiro não atenta às dúvidas. No mais, toda forma de elogio é bem-vinda, alicercílica
Joyce Gabriella Barros.
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* catalputesca: relativo à catapulta.
   cabisbaixisse: // cabisbaixo.
   alicercílica: // alicerce.

28 de março de 2016

Um grande jogo de adição

Uma reflexão que a muito tem pairado dentro em mim, é a de que, sem dúvidas, nunca considerei uma frase tão incoerente quanto "a pessoa certa aparece após todas as erradas". Você deve estar se perguntando, 'tá, mas e daí?'. 
Primeiro: Há realmente um tipo de pessoa errada? E se há, quais os parâmetros condizentes que acometem essa definição?
Segundo: O que é certo para você, pode ser errado pra mim, e vice-versa. 
Muito pelo contrário e evadindo-se da ideia de amor romântico para evitar possíveis segregações e aumentar a escala de gradação para pincelar uma certa generalização, também, considero que a soma das nossas experiências, aventuras e um outro conjunto de fatores - de uma lista imensa na qual eu não ouso mencionar -, define direta ou indiretamente quem nós somos, vivências essas, que consequentemente trouxeram vários transeuntes das mais variadas mesclas de sabores para as nossas tão fluidas vidas. Esses seres, que adentraram nossa órbita sabe-Deus-lá-como, nos ajudaram a montar e organizar as perspetivas para o que podemos chamar de personalidade, ou meros reforços de escudo, algo que pode ser moldado ao longo do tempo, e esculpido com maestria conforme o senhor do destino avança ou se esvai, como queira. 
O fato é, igualmente, que ninguém vem por acaso, cada um existe pra deixar marcas na vida de outrem, como meros figurantes ou coadjuvantes, mestres na arte de não simplesmente socializar, mas de trazer mais de si, em forma de escala de tons, incidência de luz, e deixar seus rastros no mais profundo de nós, e sem perdermos as raízes, essas pessoas um dia simplesmente vão embora, por terem cumprido por absoluto o seu dever na Terra, ou, solenemente, nas nossas vidas, e não por isso deixaram de existir, ou até deixam, devido a uma mágoa, ou desastre anterior. Por isso somos tão diferentes; um conjunto variado e desordenado de relações (inter)pessoais onde temos a habilidade de sermos inigualáveis, e sem roteiros convictos a serem seguidos.
É preciso deixar ir, porque as pessoas, assim como as estações, passam, mas do contrário, não são cíclicas, estão e se vão para nunca mais, por já terem fincado a sua bandeira contribuitiva em nós. Portanto, apesar dos pesares, não culpemos quem passou pela nossa vida como o Sol em um dia nublado, ou durou, extrapolando as contas. Se ela esteve ali, saltitando limites, é mais uma prova de que de uma grande parte do que há em você, veio de carga somatória. 
E não, você não precisa dever isso à ela. Somos fruto de um grande jogo de adição de erros e acertos, componentes de um todo, que recuso a não submeter.
Joyce Gabriella Barros.

2 de março de 2016

''Ciuminho'', por Fabrício Carpinejar

Falar tudo o que acontece não é lealdade, mas tortura.

Amor é feito também da discrição, não chamar atenção do que não é importante, não criar ciúmes desnecessários. Seu namorado ou sua namorada não tem que saber se recebeu cantada na rua, ou se um ex ressurgiu com lembranças no Facebook, ou se o colega do trabalho lançou uma indireta. Não tem que saber se foi cortejada no WhatsApp ou do professor gostoso da academia. Poupe detalhes que não são recíprocos, que claramente não despertaram o desejo e não afetam o controle dos fatos. É um alarme falso que consome muita energia. Natural a companhia se desesperar com a ameaça de roubo e furto da intimidade a toda hora, não entenderá como brincadeira e charme. Cortar a conversa com pretendentes é o seu único papel, jamais o de relatar e enumerar as investidas. Não cheira bem o autoelogio, é um fede-fede na lapela das palavras. 

Amar pressupõe seriedade. Ser o mesmo dentro e fora de casa. Seguir a receita do futebol, onde não basta jogar com a bola, é fundamental jogar sem a bola, respeitando o posicionamento em campo. É constrangedor e infantil se vangloriar de flertes para obter atenção. Indica carência e falta de segurança. A informação de que se sujeita a ficar de papinho somente vai gerar discussões dispensáveis. Quando descreve uma tentativa de aproximação, ainda que frustrada, está sinalizando que a disponibilidade lhe agrada. E também que um mero contato casual é uma ameaça: se não atender ao que peço, tem gente interessada. A reação de quem ama é se afastar. A confiança representa a base da lealdade, e a exposição de concorrência cria o medo de se comprometer. Afinal, a mensagem que passa é a da licitação do seu coração – só falta abrir edital. Sem perceber, valoriza o passe e desvaloriza a relação. Generaliza o amor e apaga a particularidade da conquista, fazendo crer que pode ser qualquer um. Parece que não tem exigências e que é uma presa fácil da bajulação. Deixe para brigar por questões fundamentais. Não exercite a desconfiança, que ela pode não parar mais. Não troque o amor pela neurose. Neurose é banalizar a implicância.

Publicado no jornal Zero Hora
Página 4 - edição 18461
Porto Alegre, 01/3/2016

1 de março de 2016

Pequenas porções de mundo do outro


Existem pessoas do mundo, que derramam-se sobre o nosso mundo, com o poder de simplesmente despertar um imenso apreço, uma profunda identificação. Esse tipo de gente, geralmente é homem, mulher, ou até tanto faz, por si só se bastam, e vivem, para termos crises de catarses (no geral) com elas. Seja na vida, nos livros, na linguagem ou no poema. Elas sempre estarão lá, entendendo você de um modo que nas demais variantes do sistema, chega a ser inexprimível e improvável demais para ser transcrito a energia do grau de parentesco mental. 
Através de escolhas, preferências e gostos, vocês sentem que fazem parte de um rebanho, uma tribo, ou como você queira chamar. O problema, é que de tão iguais, os atritos se atraem, e contestar de fato, gabarita o sistema. 
Controvérsias à parte, ter pessoas diferentes vinculadas a si é uma forma de conciliação à sociedade, pois, sendo necessária a essência de uma mescla garimpada uma a uma, ligeiramente a personalidade remonta-se a partir de outras tantas e passa a ser eximiamente particular mesmo que fracionada. Mas sim, aquela pessoa, igual a você - em cores e olências, maturidade e no riso - ainda na sanidade, pairará com você. Porque gosto não se discute, não se mistura, se alinha às possibilidades das reminiscências de cada um, e faz da modéstia um caso alheio, capaz de ter no outro uma parte sua, transformar em troca e transitar por si em um lugar longínquo, de dentro para fora.
Joyce Gabriella Barros.

24 de fevereiro de 2016

O inverso de exemplo

Prenuncias à parte, escolhas são particulares, traços, dizeres enaltecidos das vontades, profundezas, no geral. No sentido analítico da situação, é cabível aceitar que independente de qualquer coisa, o amanhã será o que é, o que for pra ser, será, na linguagem apurada dos clichês. Em se tratando de fatos, não há mentiras exprimidas nesse opoente, mas uma verdade quase que absoluta é que as coisas são o que são dependentes, por assim dizer, da frequência de cada um. 
Citando uma situação hipotética, se meu eu deseja algo profundamente e corre atrás disso, com todas as suas garras e forças, sem perder o foco, mantendo o ritmo e apostolando incansavelmente no objeto de coerência, certamente alcançarei meu alvo, e o objetivo será cumprido, e então direi: foi assim porque tinha que ser. Mas tomemos como exemplo o inverso, se eu caminho pro contrário, fujo da rota e desvio do ciclo, eu perco a onda, consequentemente, encontrarei outra, onde, mais uma vez, colocarei a culpa nas coisas que são o que são e se foi assim era porque estava escrito em algum lugar. Claro que é concebível e completamente aceitável acusar o destino ou qualquer outra força maior pelas escolhas que são fincadas no presente, mas partindo do pressuposto de que ninguém, além de nós mesmos respondemos pela nossa conduta ou predições futurísticas, por que deixamos na mão da fluidez das coisas as mais difíceis e incorrigíveis decisões? 
Seria, então, mais tangível, deixar de abranger e abrigar todas as circunstâncias capazes de restringir todas as nossas opções? De fato, não é requerido muita explicação ou questionários reflexivos em parcela. O Conselho Nacional das Decisões no Presente adverte: escolhas não se adiam, o passado esvaiu, e o destino, permuta, podendo não ter mãos suficientes para desenhar e construir alicerces no futuro. Objetivos não cessam e obviedades sempre prevalecem. Se não for pra ser, talvez, na verdade nunca tenha sido.
Joyce Gabriella Barros.

25 de Maio de 2015, PE, Brasil.

17 de fevereiro de 2016

Tudo é ínfimo

Chicago, IL, USA - University Village: photo January 2 11:07am
Não dá pra descartar o prazer de viajar sozinha. Sozinha mesmo. Entrar em contato consigo e com o que é sentido acerca da definição de mundo. Mesmo que por um certo trecho, um curto espaço de tempo, algo que ressalte uma efemeridade. Tudo é ínfimoInclusive a sensação de infinitude no universo, olhar pela janela ouvindo aquela trilha sonora inspiradora, e viajar... mais ainda, pra dentro de si. 
Às vezes você só quer ouvir o silêncio que você mesmo diz, a solidão de um trajeto aliado à paisagens maravilhosas, que no meu caso, podem ser desde as do Agreste, até visão panorâmica da janela do avião acima das grandes metrópoles americanas, por exemplo, que proporcionam grandes reflexões. Acho que é isso, estar sozinho é se encontrar, é não precisar ou depender. É ir. E a cada experiência desse tipo, por mais que curta, como anteriormente citei, muitas vezes são necessárias. Lugares onde a própria existência e companhia bastam, são lugares para serem preciosamente desfrutados e adorados no mais íntimo dos silêncios, e essa apreciação deverá ser sempre intrínseca à quem a sente, pelo fato do descobrimento ser um processo de magnitude do espírito.
Joyce Gabriella Barros.

4 de fevereiro de 2016

Para amar uma ruiva, por Camila Fernandes

Para amar uma ruiva é preciso haver coração de sobejo. Não que as ruivas não se amem facilmente. Na verdade, é comum que sejam amadas por muitos. Basta às vezes um só olhar para que isso aconteça. É que, uma vez acesa a chama, nunca será pequena; será sempre fogo denso, impiedoso, inquisidor. Portanto, para amar uma ruiva é preciso saber queimar. É preciso brincar sem medo com fogo. E é preciso também respeitá-lo – o fogo que nasce no crânio da ruiva feito cabelo, que lhe afogueia as faces. Um fogo que, quando afrontado, em lugar de aquecer, incinera. Judas tinha cabelos vermelhos, diz-se; como Esaú também os tinha, e antes dele, Caim. Waterhouse pintou Lamia, lenda de sedução, com cabelos vermelhos; as madeixas com que a Vênus de Boticcelli cobre languidamente o sexo não são de outra cor que não a do fogo. Cor que é certamente um sinal de perigo. Sinal claro de divindade. 

Para amar uma ruiva é preciso fitá-la intensamente nos olhos – sejam azuis do mar, verdes dos fiordes ou, mais raramente, castanhos como a terra que os consumirá – e provar-lhe a ausência do medo. Conquistá-la no olhar primeiramente, e só depois no toque – pois tu certamente quererás tocar a pele muito, muito clara, de uma claridade quase ofuscante, mesmo sob o sol maldoso dos trópicos. Quererás isso como teus pulmões querem o ar. Eu sei porque já quis. Mas, antes disso, terás de provocar seu sorriso, e embora sorrisos sejam fáceis na boca-morango da ruiva, não penses que serão todos teus. Alguns serão da tua tolice, da tua presunção, e estes ela te dará sem cerimônia, sem promessa, sem futuro. Serão paina ao vento, macios e inúteis. O sorriso que queres tomar da ruiva é o do fascínio. Pois ela, que fascina, não quer outra coisa que não ser fascinada. Ela é chama, e para incendiar deve ser alimentada com palavras hábeis, coração honesto, virilidade sem disfarces. É preciso atrevimento, mas nunca certeza; ela é amada por muitos, e pode escolher a quem amar. Então, quando obtiveres esse sorriso, estarás pronto para amar uma ruiva.

Para isso, começa sempre no beijo, mas que ele não seja sempre nos lábios-cereja, porque o óbvio a mortifica e ela deseja a surpresa, o ato que lhe faça justiça. Que teu beijo, pois, seja às vezes na superfície interna do pulso, onde veias de sangue azul chamam o olhar e provam que a pele é sensível; às vezes, no canto esquecido abaixo da orelha, que não é nem pescoço nem face, nem amor nem desejo – é algo entre mundos, e estar entre mundos é da natureza da mulher de cabelos carmesim, cobre ou dourado-fogo. Fica, pois, entre os mundos dela, como entre os lábios, entre os braços, entre os seios e afinal entre as coxas. Sem pressa, porém; pois para amar uma ruiva é preciso queimar como boa madeira no inverno: por toda uma noite, aquecendo a casa, crepitando baixo, estremecendo sempre até as cinzas. Para amar uma ruiva é necessário amar-lhe cada sarda, da testa ao ventre, saboreando-as como raspas de canela que temperam a pele-leite.

É preciso consumir-se nos cabelos-labareda. É preciso afogar-se no sexo, rubro jardim sem espinhos, e santificar seu aspecto perpetuamente virginal, a despeito do pecado, que ela te ensinará a adorar, se já não souberes. Para amar uma ruiva – e disso sei por já ter amado muitas – é preciso arder com graça. É preciso amar um pouco o próprio inferno. Por isso, ruiva, se é que deves mesmo me ferir, sê breve: tenho pressa do paraíso.

2 de fevereiro de 2016

Sobre a paranoia do egoísmo imortalizado

Ilustração: Felipe Frizon
Sim, o egoísmo exacerbado muitas vezes nos corrompe. Talvez seja a ser pouco tal adjetivo. Para adquirir mais intensidade, o egoísmo dilacera. Ele faz com que nós destruamos nossas vontades e aspirações mais ocultas, estejam elas distantes ou não das nossas mãos. 
O que acontece é que, ao tomar pra nós algum tipo de situação como verdade, a gente acaba retendo o mal por dentro - para os pessimistas de plantão, claro - e o que era colorido, vai sendo devorado por sei lá sabe o que, dragões de sangue e fogo inesgotável na garganta capazes e retrair toda aquela convicção que tínhamos até então. 
Um olfato sempre difere do outro, mas não se discute quando eles sabem do que ambos estão falando. Vai ver nem sempre é assim, mas o pior de tudo, é aquela ideia tendenciosa da consciência fazer todo um alarde em cima do visto enquanto o outro lado, para amenizar as coisas, fica fazendo joguinhos baratos de pleonasmos aleatórios, e isso não é saudável. 
É intransferível trocar os moldes comportamentais e emocionais e ver onde eles se encaixam melhor, talvez, reunir provas concretas daquilo que a imaginação insiste em dissipar pelas correntes da emoção e nunca: em hipótese alguma, guardar pra dentro de si. Vira bomba, e todos nós sabemos que toda bomba, uma hora vem à tona e torna a explodir. Ou melhor, implodir a nós mesmos.
Joyce Gabriella Barros.

12 de Janeiro de 2016 02:21am. Chicago, IL, USA, 

29 de janeiro de 2016

Uma pitata de quereres

A vontade mais concreta do momento é rasgar a pele e libertar todas as palavras de dentro para rabisca-las sem sentir, no céu. Quero mirar no futuro com o pé firme no paraíso do presente. É amargo não saber. Voltar sedenta com a luz daquilo que faz falta sem saber do quanto é necessária, uma falta de agir imprópria e que não fere com facilidade, mas deixa cicatrizes profundas no inestimável.


Só de pensar na diferença que faz de tudo aquilo que já ousou possuir, há medo do presságio em regressos. Sirenes gritam ao relento sem saber ao certo a quem pedir um alicerce corretamente. E se conforma, em controvérsia ao que queria extravasar esperando uma favorável troca em comum tão condizente quanto o proferido, levando em consideração de que nada no mundo é tão equivalente quanto a nostalgia do que outrora não está no mesmo lugar, mas elevou-se de tal maneira que acabou se tornando metaforicamente segmentado e mecânico, apesar de seus contrastes.
Joyce Gabriella Barros.

21 de janeiro de 2016

Amor de verdade

Amor de verdade não acaba, sobrevive às intempéries e, mais precisamente, a força do tempo, preciso, sagaz, e que, como diria Gaspar Noé, "destrói tudo", o amor verdadeiro percorre a luz em direção ao infinito, traça consigo mesmo o caminho inesgotável e volátil, segue transparente e se faz forte para poder nos alcançar. 
Amor de verdade está intrínseco à pele, não se traduz como solidão, vem em forma de aconchego mesmo em amplitudes distantes. O amor, aquele amor de verdade, não faz planos, sobrepõe as metas que questionara existir, contudo, o amor de verdade, tem plena convicção do querer presente da presença do outro no dia de amanhã - apesar da não sapiência de sua existência - fazendo com que as aspirações extrapolem o individual em particularidade com as exceções. Não, o amor de verdade não se esgueira, nem se curva em meio a turvalidade do que antes, sobrevoava em transparência. É grato, sem fim, e em cada gesto, fazendo questão de receber o outro como a visita preferida do seu lar. Amor de verdade não é intuitivo, logo, que não seja condenada a existência de sua predestinação, e não subestima sua própria capacidade, não multiplica seus sentimentos em busca de resultados inesgotáveis, não se exausta e nem serve de consolo para estradas controversas. 
Amor de verdade envolve como uma cápsula e estende o silêncio como ajuda e ponto de resiliência para toda calma. Há inúmeros questionamentos sobre a relação do amor além da vida, o amor que não acaba, mesmo quando tudo acabou dentro de nós, mas amor de verdade, se sobrepõe a isso, pois o amor sabe quando é mais do que um corpo em brasa vivendo e enfatizando sua própria existência. Amor de verdade não corrompe as expectativas. Não oculta o desatino, não tem medo de fidelizar os seus princípios, cura, ao mesmo tempo que domina os instintos mais vis. 
O amor pode até ser vivido mil vezes em uma só vida, mas o amor de verdade, quando dada a hora de sua chegada, não bastará, pois mil vidas não serão suficientes para vivê-lo simplesmente em sua intensidade de querer-se a si mesmo para outorgar-se ao outro.

6 de Janeiro de 2016 04:17am. Chicago, IL, USA.

Joyce Gabriella Barros.