oi, eu sou joy e fazem 477 dias que eu fui passar um mês fora de casa e não voltei. eu tô sentindo mil coisas diferentes a respeito do fato de sentir o ano virar. amanhã eu vou ser alguém novo? vou entrar numa câmara de gás e glitter onde num passe de mágica todos os meus problemas vão embora?
é muito louca a sensação de toda essa carga energética e simbólica que constitui o avanço de um ano, gere toda uma esperança em torno, e até mesmo nós, vermos tudo mudar. continuamos sendo os mesmos, mas por um segundo tudo parece se transformar. a gente pode escolher mudar hoje, amanhã, segunda-feira, ou sei lá. não vai ter o mesmo empenho do que começar uma nova versão de você em janeiro. eu tenho sentido coisas ainda que parecem permanecer em mim ao longo de anos, que ano vai e ano vem, são sensações e emoções doendo pouco a pouco enraizando em mim algo que me controla totalmente. não é o ano quem vai decidir me ver mudar pelo menos a perspectiva.
eu fico feliz em ter me superado em muitas coisas, enfrentado desafios, simples ou não tanto, mas que mais uma vez, não sei porque ainda me surpreendo por ter conseguido. parece que eu sempre já sei que tudo vai dar certo de novo. e nem sempre tudo vai se sair conforme eu imagino que seja quando o que tem que ser meu está a caminho. são milhões de possibilidades e eu só preciso confiar que todas as coisas que eu tenho que viver eu já estou vivendo. e tudo se vai. mas infelizmente vez em quando eu me saboto. desconfio. e isso me corrói por dentro. eu ajo totalmente contrário ao que gostaria que eu mesma fosse.
são muitas coisas que eu queria dizer para algumas pessoas, mas agora, uma em específico me veio, e vale pra muitas pessoas juntas. talvez. eu queria pedir desculpas por me afastar. não me julgo. mas alguns trejeitos na sua personalidade ativam gatilhos em mim que eu não consigo estar pronta pra lidar. é a mesma sensação de olhar pro sol. você pode fitá-lo por alguns segundos, mas ele pode facilmente fechar sua visão antes que você perceba. olhar pra nossas dificuldades em lidar com grande maioria das coisas não é fácil. todos os dias eu luto contra o entendimento de mim mesma e eu sei que vivendo quiçá o gelo que as minhas paranoias ergueram em forma de muralha poderia simplesmente derreter com um pouco de presença. mas por agora prefiro não olhar. existem mil coisas que ainda me afligem, é como se tivesse que me equilibrar o tempo todo entre ser minha própria mãe e lembrar de ser filha, deixar-se ser acolhida. pensar dói. parece que não me reconheço essas distâncias, esses segmentos.no mais, eu deixo as coisas serem. preciso reconhecer ainda um restinho de leveza em mim e expandi-la outra vez. não depende de mais nada lá fora. eu vou sentir as coisas com totalidade outra vez. me reconhecer e escolher cuidar de mim é um pouco do que sei sobre autocompaixão.BARROS, Joyce Gabriella. domingo, 31 de dezembro de 2023.