29 de julho de 2016

Guarde e morra sufocado

Há uma lacuna inversa ao esconder o que está sendo sentido, esconder do outro, do mundo, esconder de si. Simplesmente ignorar, fingir que não há, guardar a dor para que ela apodreça e morra em sua própria companhia. Sem ninguém saber o que passa, evita transparecer a mínima migalha de sentimentos negros pro exterior do eu. Em contrapartida, atos mandam recados, sinais, jogam sujo, esfregam a cara no asfalto ao mostrar o que realmente está passando do lado de dentro, e o coração fica a ponto de petrificar. Triplicando condolências, o ato de mascarar torna tudo subjetivo e na maioria das vezes, sofre irremediável, agredido, por estar sendo terrivelmente incompreendido.
Ser dono de uma sensibilidade infinita é um fado, por tudo que está envolto ser sentido com uma força maior do que pode ser descrito em escalas ou porcentagens, e viver por viver, é tentar um dia após o outro matá-la, tentar não sê-la, caminhar alheio a ela. 
Tomando como dificultoso, soa como se estivesse prestes a chegar ao topo do limite, não sabendo mais ao que recorrer, por tanto ser mal interpretado e caluniado. Consternação visceral é lamentar que a tudo se deu, a tudo tudo se doou, e que pra facilitar talvez seria mais fácil fazer um apanhado de toda propriedade e simplesmente jogá-la abaixo, matar e sufocá-la aos prantos para que agonize, dure poucos instantes e vá embora para nunca mais. Mas fica a questão, seria essa a melhor opção? Qual a viabilidade? Sentimentos não ditos não dissipam no ar e voltam como fantasmas em meio às terríveis arestas da indecisão.

Uma dor não destruída regressa mil vezes mais forte e dolorosa. 
Guarde e morra sufocado. 

Joyce Gabriella Barros, 
4 de Julho de 2016.

16 de maio de 2016

A tragédia dos pequenos grandes equívocos urgentes

O Grito, Edvard Munch, 1893
Hoje mais cedo, a minha consciência passou por um forte processo de desígnio, a mente em êxtase clamava por uma modificação do estado normal de algo muito particular. 
Efluía de dentro,
do âmago.
Há muito tempo,
algo em mim pedia socorro,
gritava por atenção,
queria ser visto. 
De todas as formas, essas condições tentaram se revelar para que eu pudesse perceber o que estava distante, errado, passível de correção, e eu, com a capacidade pouco difusa de observação, ignorei, calei, deixei estar. Sim, eu passei perto, foi por pouco. Quase faltou ar. Tentando esquivar-se da evolução para algo muito pior e talvez irreversível, colido com a surdez, ao ouvir a emissão de uma voz em tom agudo e elevado suplicando para ser posto fora à força do corpo, quase numa síncope. Foi sugestivamente suasório, a intensidade de sua aparição foi tão cruel, que deixou feridas e resquícios que levarão um bom tempo para serem extintos, embora admitindo crença na energia das consequências do inconsciente, na razão, no propósito e o fato de absolutamente nada vir a tona fortuitamente.
Um episódio alastrado de realidade, contudo, confundido com um sonho. Um chamado, a prova de que um apanhado de posturas merecem revisão. 
E sob tais conjunturas, me propus a engatar uma nova condição - e travar as velhas -, tocar as mãos uma à outra para agradecer pela capacidade de discernimento que ao sorrir em minha direção, me impediu de atos pérfidos contra si, com todas as garantias à mim e ao amanhã, que arcarei com todos os ciclos que foram abertos, e a partir de agora se encontram declaradamente dados por encerrados, para que novos começos venham e calcem alavanques infinitos.
Mudanças ascendem. Erros, carregam lacunas de regressão. É preciso arriscar-se, mudar o endereço dos medos e das dores, segurar com peito de ferro as rédeas de toda e qualquer situação contraditória da conduta.

Joyce Gabriella Barros.