1 de junho de 2015

Eterno Retorno

O Eterno Retorno talvez seja um dos pensamentos mais conhecidos e importantes de Nietzsche, onde o pensador alemão invoca a ideia do Eterno Retorno como possibilidade de aceitar e afirmar a vida. Você viveria sua vida mais uma vez e outra, e assim eternamente? Se você fosse condenado a viver a mesma existência infinitas vezes, e nada além disso, como se sentiria? Portanto, o maior de todos os pesos é também o maior de todos os presentes: a vida não tem sentido! Nós damos sentido a nossas vidas, como um artista que dá sentido a sua obra. Que benção! Temos a chance, esta sim me parece divina, de sermos responsáveis por nossa própria criação. Nietzsche abriu a possibilidade de nos tornamos artistas! Esculpindo-nos como nossa própria obra de arte; dançando a música da vida, não pelo que acontece depois que ela termina, mas pelo prazer do ritmo e da melodia.
Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser.
Tudo morre, tudo refloresce, eternamente transcorre o ano do ser.
Tudo se desfaz, tudo é refeito;
eternamente fiel a si mesmo permanece o anel eternamente constróí-se a mesma casa do ser.
Tudo se separa, tudo volta a se encontrar;do ser.
Em cada instante começa o ser; em torno de todo o "aqui " rola a bola "acolá ".
O meio está em toda parte. Curvo é o caminho da eternidade.
FRIEDRICH NIETZSCHE, Assim falou Zaratustra, "0 convalescente", § 2.
Quando Nietzsche se pergunta o que é o mundo, ele assim o descreve (l978: 397): "como força por toda parte, como jogo de forças e ondas de forças, ao mesmo tempo um e múltiplo, aqui articulando-se e ao mesmo tempo ali minguando, um mar de forças tempestuando e ondulando em si próprias, eternamente recorrentes [... ], abençoando a si próprio como aquilo que eternamente tem que retornar, como um vir-a-ser que não conhece nenhuma saciedade, nenhum fastio, nenhum cansaço."

O eterno retorno é a grande prova, o grande teste de vida pelo qual cada homem tem de passar, como nos conta Nietzsche em A gaia ciência (1978: 208):
"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "esta vida, assim como tua avives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência- e do mesmo modo essa aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!" Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes"" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou, então, com terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"
Amor ao destino - É imponderável o quanto cada um de nós necessita estar bem consigo próprio e com a vida para dizer: "Quero isso inúmeras vezes, quero isso eternamente!". Por isso, o eterno retorno é posto por Nietzsche como um imperativo ético, seletivo. Para passar por essa prova, qualquer homem deverá ter vencido todos os ressentimentos, azedumes e depreciações com relação à vida, deverá estar imbuído daquilo que Nietzsche denominou amor fati (amor ao destino), que significa não querer nada de outro modo, nem para diante nem para trás, nem em toda a eternidade, conforme disse o filósofo em um de seus derradeiros escritos.

"O mundo e o "eu" que retornam, em cada instante, trazem consigo todas as pequenezas e todas as grandezas que lhe são próprias, o que não poderia ser de outra forma, desde que não existe nenhum outro mundo, assim como nenhum outro "eu". Poder-se-ia, entretanto, argumentar que todos os entes do mundo (incluindo os inúmeros "eus") estão em contínuo devir, ou seja, transmutando-se ininterruptamente em 'outros mundos', 'outros eus'."

Disponível em: cefetsp.br/edu/ (Acesso em 01 de Junho de 2015 10:38)